A renda variável supera mesmo a renda fixa de baixo risco no longo prazo?
No momento de escolher entre aplicar dinheiro em ativos de renda fixa de baixo risco ou de renda variável, as pessoas, em geral, se preocupam inicialmente com o perfil de investidor.
Renda fixa costuma ser indicada para quem prefere investimentos mais conservadores e a renda variável é a escolha de quem está disposto a se expor a um risco maior. No entanto, existe uma análise mais profunda e válida de ser feita para quem tem interesse de aplicar dinheiro no longo prazo.
De um modo geral, a premissa de quem aplica em renda variável é esperar um retorno maior, tendo em vista que o investimento é mais arriscado e, no longo prazo, tende a ter retornos maiores. Algumas teorias financeiras sugerem que o risco mais elevado das aplicações de renda variável pode ser diluído ao longo do tempo - chamariz que acaba trazendo muitos investidores para a Bolsa de Valores.
Para entender se essa premissa é verdadeira, fiz um estudo que compara o rendimento de investimentos de renda fixa de baixo risco e de renda variável ao longo do tempo. Para efeito de comparação, o CDI foi usado para representar a renda fixa - tendo em vista que serve como lastro para os principais ativos dessa modalidade, como CDBs, LCIs e LCAs. O Ibovespa foi usado como representante da renda variável.
A comparação foi feita com todas as janelas de investimento de 1 a 22 anos, desde que o Plano Real foi implantado. Para efeito de equiparação nos resultados encontrados, foram descontados os impostos que incidem sobre ambos e incluídos os dividendos e proventos da Bolsa.
Quem imagina que a Bolsa de Valores se sobressai no longo prazo vai se impressionar: a Bolsa fica atrás da renda fixa em todas as janelas de comparação. No longo prazo, as disparidades com a renda fixa são ainda maiores.
Em um horizonte de cinco anos de investimentos, considerando 4.315 comparações, a renda fixa supera as aplicações da Bolsa em 63,5% das vezes. Em um prazo de dez anos, esse percentual cai para 60% - considerando 3.055 comparações. No entanto, em 15 anos de aplicação, os ativos de renda fixa superam a Bolsa em 80,8% dos casos, considerando 1.795 comparações. Em 20 anos, a Bolsa perde em todas as 535 comparações, ou seja, a renda fixa tem 100% de aproveitamento.
Vale ressaltar que as comparações foram feitas em períodos em que a taxa básica de juros da economia oscilou entre momentos de alta e baixa, ou seja, não cabe aqui o argumento de que o atual patamar elevado dos juros favoreceu as aplicações atreladas ao CDI.
Como o mercado é imprevisível, essa comparação não tem a intenção de apontar que a Bolsa sempre sairá em desvantagem em relação à renda fixa. No entanto, a análise é válida para que o argumento dos agentes da indústria do mercado financeiro - sobre diluir riscos no longo prazo - não seja aceito cegamente.
Postar um comentário
0 Comentários